sexta-feira, 5 de abril de 2013
Born to run? Será que você nasceu para correr?
Para poucos, correr pode ser a coisa mais natural do mundo. A realidade mostra que os estilos (ou técnicas) de corrida variam de tal forma que é justo dizer que cada indivíduo irá desenvolver um estilo único – aliás, todos possuímos diferenças na composição corporal, no recrutamento muscular dos membros inferiores e no posicionamento dos pés quando pisamos no chão.
A indústria tem investido na tecnologia de calçados que promovam a correção de pisada (pronada ou supinada), entretanto um estudo publicado em 2009 no British Journal of Sports Medicine mostra que não há evidência para tal indicação.
Correr bem e se manter livre de lesão requer um acompanhamento especializado, foco no trabalho da técnica de correr e do controle postural, afirma Scott Smith, fisioterapeuta australiano especialista em lesões de corrida e golfe. Segundo ele, há 7 fatores-chave que favorecem o risco de lesão em corredores:
1-Ângulo Q aumentado – mulheres possuem a pelve mais larga que homens; dessa forma, possuem mais risco pois a linha de força que passa pelo fêmur é direcionada mais para a parte medial (interna), e isso promove uma descarga de peso assimétrica no membro inferior;
2-Problemas relacionados com a gestação – é comum mulheres sofrerem de lesões de ligamentos da região pélvica. Caso não tenham sido submetidas a um retreinamento muscular apropriado, suas pelves se apresentarão levemente instáveis, e consequentemente serão incapazes de suportar as grandes forças envolvidas durante a corrida;
3-Empregos sedentários – tais trabalhadores estão em risco a não ser que dediquem tempo suficiente para potencializar o treino de controle muscular lombo-pélvico e fortalecimento dos membros inferiores, como por exemplo, obter uma adequada amplitude de movimento ativa e passiva de extensão da articulação do quadril;
4-Posição da tuberosidade da tíbia – alguns indivíduos nascem com a tuberosidade da tíbia em uma angulação mais lateral e inferior abaixo da patela. Isso força a musculatura do quadríceps a puxar para uma angulação mais lateral, levando ao aparecimento de patologias patelofemorais;
5-Corredores que começaram tarde – começar a correr com idade avançada (e isso significa perto dos 30 anos) apresenta um risco de lesão mais elevado. Os padrões de ativação neuromuscular estabelecidos quando somos mais jovens permitem um controle do recrutamento muscular otimizado necessário para o corredor;
6-Lesões antigas – problemas antigos nos membros inferiores precisam estar reabilitados adequadamente (por exemplo, um entorse de tornozelo deve atingir uma completa dorsiflexão como antes;
7-Empregos pesados – aqueles que atuam em trabalhos que carregam muito peso podem estar sobrecarregados e sem tempo de descanso entre as sessões de corrida, o que é imprescindível para que haja recuperação dos tecidos.
Para Nicholas Romanov, cientista do esporte e idealizador da Pose Running, uma técnica de corrida apropriada deve fornecer percepção de leveza, exigir pouco suporte, não provocar tensão nos músculos e não sobrecarregar as articulações. Envolvido no mundo de atletas e corredores por mais de 30 anos, Nicholas acredita que o alongamento estático é provavelmente menos importante e menos efetivo em prevenir lesões e se recuperar delas do que um fortalecimento muscular adequado, resistência e controle muscular lombo-pélvico. Ele enfatiza que seu método de correr proporciona ao atleta um foco no trabalho do controle muscular e de posturas dinâmicas em posicionamentos específicos. "O controle muscular é a chave", afirma. (Arendse et al 2004)
Recentemente fui procurado por uma corredora jovem (que corre entre 5-10km, duas vezes por semana) com queixa de dor anterior do joelho e lombalgia não específica. A avaliação demonstrou que se tratava de uma caso de síndrome patelofemoral, acompanhado de um fraco controle lombo-pélvico com predominância de anteversão pélvica (encurtamento dos flexores do quadril. Uma alteração da amplitude de movimento da coluna lombar, particularmente com aumento da lordose fisiológica, tem sido associado como agravante na lombalgia (Delgado et al 2013).
Após 6 atendimentos com técnicas de fisioterapia manipulativa para o joelho, exercícios de Pilates com foco no retreinamento da musculatura lombo-pélvica, quadril e joelho (vasto medial e rotadores externos quadril) ela voltou a correr sem queixas, mantendo o resultado até hoje, aproximadamente 5 meses após a primeira intervenção.
Com isso, podemos concluir que o método Pilates pode promover melhora do controle lombo-pélvico necessário para atletas e entusiastas da corrida. Vale lembrar que uma avaliação individual é necessária e a partir dela é que os exercícios corretos deverão ser selecionados e aplicados.
Referências:
Andrew McMillan. Craig Payne. Effect of foot orthoses on lower extremity kinetics during running: a systematic literature review. Journal of Foot and Ankle Research 2008, 1:13.
Arendse, R.E., Noakes, T.D., Azevedo, L.B., Romanov, N., Schwellnus, M.P. and Fletcher, G.J. Reduced eccentric loading of the knee with the Pose running method. Medicine Science in Sport and Exercise 2004, 36, 272-277.
Delgado TL, Kubera-Shelton E, et al. (2012). Effects of Foot Strike on Low Back Posture, Shock Attenuation, and Comfort in Running. Med Sci Sports Exerc 45 (3): 490-6.
Kelly Dyke, Carina D. Lowry, Joshua A. Cleland. Management of Patients With Patellofemoral Pain Syndrome Using a Multimodal Approach: A Case Series. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy, Vol 38 number 11 Nov 2008.
Mark Alexander, Scott Smith. Physiotherapist’s guide to running injuries. Sports Injury Bulletin, 2010.
Richard B. Souza, Christie E. Draper, Michael Fredericson, Christopher M. Powers.
Femur Rotation and Patellofemoral Joint Kinematics: A Weight-Bearing Magnetic Resonance Imaging Analysis.
Richards CE, Magin PJ, Callister R. Is your prescription of distance running shoes evidence-based? Br J Sports Med. 2009 Mar;43(3):159-62.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Subgrupos - Estudo preliminar na derivação de regras de predição clínica (RPCS) utilizando exercícios baseados no método Pilates
Embora os exercícios baseados no método Pilates tenham alcançado popularidade para o manejo conservativo (tratamento não cirúrgico) das lombalgias, a evidência científica para tal afirmação ainda é esparsa e inconclusiva.
Lim e colaboradores realizaram uma revisão de meta análise em 2011 e concluíram que a baixa qualidade e a heterogeneidade dos estudos de Pilates revisados sugerem que os resultados sejam interpretados com cautela. Por outro lado, outros estudos que examinaram subgrupos homogêneos de pacientes com programas de exercícios específicos são promissores.
Regras de predição clínica consistem na combinação de variáveis de questionários científicos (como por exemplo os questionários Oswestry, FABQ, etc., que são preenchidos pelos próprios pacientes) bem como de dados coletados durante o exame histórico e clínico. Elas tem por objetivo classificar os pacientes em subgrupos para que estes recebam um tratamento específico. Recentemente, as RPCs têm se mostrado úteis na classificação de pacientes com lombalgia. O intuito é selecionar quais indivíduos são mais prováveis de se beneficiar com uma abordagem de tratamento específica. Por exemplo, um grupo pode ser submetido à manipulação, enquanto outro à estabilização lombar.
Uma vantagem das RPCs é que elas usam propriedades de diagnóstico de sensibilidade, especificidade e taxas de probabilidade, permitindo que suas variáveis sejam interpretadas e aplicadas aos pacientes. Contudo, devem ser analisadas posteriormente por meio de rigorosos padrões metodológicos no que concerne seu desenvolvimento e validação. Uma vez derivadas, validadas e demonstradas como capazes de impactar o comportamento clínico de forma positiva, estas podem ser úteis na seleção do tratamento mais efetivo.
Um estudo preliminar prospectivo do tipo coorte foi realizado com 96 pacientes classificados com lombalgia crônica e publicado na JOSPT (Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy) em maio de 2012. Os pesquisadores observaram 5 preditores que podem serem usados com aqueles pacientes que provavelmente se beneficiarão com um tratamento por meio de exercícios baseados no método Pilates. Os preditores foram: 1) flexão total do tronco de 70° ou menos; 2) duração dos sintomas de 6 meses ou menos; 3) nenhum sintoma nos membros inferiores (dor que distaliza) nas semanas anteriores; 4) IMC (índice de massa corpórea) igual ou maior que 25 kg/m2 (o que indica sobrepeso) e 5) média de ADM de quadril (direito ou esquerdo) igual ou maior que 25°.
Caso 3 ou mais dos atributos mencionados acima estejam presentes (o que ocorreu em 42% dos sujeitos do estudo), a taxa de probabilidade positiva é de 10.64. Esse número indica um provável índice de sucesso do tratamento com exercícios baseados no método Pilates.
Portanto, esses 5 fatores devem ser observados durante a avaliação clínica individual e considerados durante a prescrição de exercícios terapêuticos baseados no método Pilates para o tratamento de lombalgia crônica.Contudo, vale ressaltar que estes são resultados preliminaries e ainda devem ser validados por estudos randomizados controlados. Outro detalhe importante é que a amostra foi composta por 81.1% dos sujeitos do sexo feminino, e dessa forma tais preditores provavelmente serão mais aplicáveis às mulheres.
Referências:
Lim EC, Poh RL, Low AY, Wong WP. Effects of Pilates-based exercises on pain and disability in ndividuals with persistent nonspecific low back pain: a systematic review with meta-analysis. J Orthop Sports Phys Ther. 2011;41:70-80.
Lise R. Stolze, Stephen C. Allison, John D. Childs. Derivation of a Preliminary Clinical Prediction Rule for Identifying a Subgroup of Patients With Low Back Pain Likely to Benefit From Pilates-Based Exercise. J Orthop Sports Phys Ther 2012;42(5):425-436.
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