sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Dicas para evitar problemas na coluna cervical

ESTRESSE EXCESSIVO

Bilhões de pessoas em todo o planeta utilizam aparelhos celulares, essencialmente em má postura. Em geral, o indivíduo adota uma postura com cabeça e ombros inclinados à frente. Uma boa postura cervical é definida a partir de um alinhamento de orelhas e ombros, com ombros e escápulas levemente retraídos (direcionados para trás).

A cabeça pesa em média de 10 a 12 libras (4,5 ~ 5,5 kg). Entretanto, quando inclinada à frente, seu peso aumenta consideravelmente. Um estudo realizado nos Estados Unidos, liderado pelo cirurgião Kenneth K. Hansraj, chefe do Centro de Cirurgia e Reabilitação da Coluna em Nova York, e publicado em novembro de 2014 no Journal Surgical Technology International (Jornal Internacional de Tecnologia Cirúrgica), investigou o estresse relacionado ao aumento da angulação da coluna cervical.


A perda da curvatura cervical fisiológica ou natural aumenta o estresse sobre suas estruturas, podendo causar limitação, dor, degeneração e cirurgias. Gastamos em média de 2 a 4 horas diárias com a cabeça curvada enquanto lemos ou digitamos em nossos celulares, contabilizando aproximadamente de 700 a 1400 horas anuais de estresse excessivo sobre a cervical. Possivelmente, um aluno de ensino médio pode passar mais 5.000 horas extras em má postura.

PREVENÇÃO

O primeiro passo é adotar, de forma consciente, uma postura neutra. Veja algumas dicas:

1- Não utilize celulares e tablets para trabalho prolongado;

2- Prefira computadores do tipo desktop para tais tarefas, especialmente adequados ergonomicamente;

3- Ao invés de inclinar seu pescoço para baixo, procure fletir (dobrar) os cotovelos e mantê-los apoiados sobre o tronco;

4- Durante a leitura na tela, mantenha seu aparelho à altura aproximada da face;


5- Faça uso de uma parede para apoio da parte de trás da cabeça, dobrando levemente o queixo abaixo de modo a facilitar a visualização.

6- Pratique quando assentando em cadeiras com encosto ou no apoio de cabeça do assento do seu carro.


Fonte:

Hansraj KK. Assessment of stresses in the cervical spine caused by posture and position of the head. Surg Technol Int. 2014 Nov;25:277-9.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Neurodinâmica para instrutores de Pilates

O conhecimento das posições (testes provocativos do tecido neural) que estiram ou comprimem os nervos bem como os sintomas referidos pelos indivíduos com sinais e sintomas de comprometimento do tecido neural é imprescindível ao profissional de Pilates. Exercícios clássicos, idealizados por Joseph e comumente aplicados em estúdios de Pilates espalhados por todo o mundo, apresentam a mesma posição e amplitude articular que os testes neurais provocativos aplicados durante uma avaliação fisioterapêutica.



Testes neurais foram desenvolvidos a partir de pesquisas sobre a anatomia neural e deslizamento dos nervos. Em 2009, o fisioterapeuta e pesquisador Coppieters comparou sequências específicas de movimentos dos membros superiores, e observou qual movimento e ordem tensionam ou mobilizam o tecido neural, de modo a saber qual técnica seria mais adequada para o tratamento. O objetivo do teste neural é provocar, de maneira gentil, uma tensão neural não lesiva que cause a queixa relata pelo indivíduo com sintomas de neuropatia.

O registro mais antigo do uso de testes neurais data de 2800 DC, quando os egípcios utilizavam a manobra da elevação da perna (flexão do quadril com joelho em extensão) como meio diagnóstico para lombalgia. Atualmente conhecido como Straight Leg Raise (SLR), esse teste promove um alongamento do nervo ciático e tem por objetivo avaliar a ocorrência de sensibilidade mecânica à elevação do membro inferior.



O conceito modelo de Neurodinâmica proposto por Shacklock (2005) é dividido em um sistema de 3 partes: interface mecânica, estruturas neurais e tecidos inervados.

A interface mecânica ou “cama do nervo” (nerve bed) consiste de estruturas anatômicas situadas próximas aos nervos (tendões, ligamentos, músculos, ossos, discos intervertebrais, fáscia e vasos sanguíneos). É como um telescópio flexível e móvel o qual contém o tecido neural. Dessa forma, o nervo periférico está sujeito à deformação da interface, (estiramento, encurtamento, curvatura ou torção), estando obrigado a acompanhar qualquer tipo de movimentação.

Estruturas neurais consistem de todas as partes do sistema nervoso, desde o encéfalo até as terminações distais dos nervos periféricos. Além de funções fisiológicas como condução de impulsos elétricos, fluxo neural, transporte axonal, inflamação e sensibilidade mecânica, o tecido neural também possui função mecânica e deve ser capaz de suportar tensão, movimento e compressão.

Os tecidos inervados são supridos por nervos correspondentes, sendo importantes pontos de acesso para tratamento do tecido nervoso. Liberar um músculo encurtado distalmente, por exemplo, pode ajudar a reduzir a tensão por todo o caminho do um nervo que esteja sensibilizado (sensível ao movimento).

Um nervo periférico pode sofrer estiramento ou compressão mecânica, e em geral é capaz de suportar em torno de 20% de alongamento antes que seja lesado (Sunderland, 1991). Um nervo que já se encontre sensibilizado (que já sofreu um estiramento além de sua capacidade normal) não responderá normalmente à tensão, compressão ou movimentação diária, podendo gerar dor (geralmente sentida no trajeto do nervo).

Uma neuropatia compressiva produz dor e alteração da condutibilidade neural e bloqueio da condução axonal. Efeitos comuns da compressão de um nervo periférico são: resposta sensorial diminuída, redução dos impulsos motores, alterações no reflexo, dor no miótomo e dermátomo correspondente, hiper ou paraestesia (queimação, formigamento, etc.)

O fluxo neural é afetado por compressão, e pode provocar edema neural pela pressão que bloqueia a drenagem de sangue do nervo, o que reduz sua oxigenação. Shacklock identificou que quanto mais tempo o fluxo neural é afetado, mais tempo irá levar sua recuperação e maior a chance de que sua condução seja afetada.

Edema ou inflamação pode levar à cicatrização dentro do nervo. Uma vez inflamado, o nervo tem sua sensibilidade mecânica aumentada e pode iniciar uma cascata inflamatória que não melhora com alongamento.

A mobilização do sistema nervoso é uma das abordagens da Fisioterapia Manipulativa no tratamento de dor. O método, conhecido como Mobilização Neural, atua na fisiologia da dor por meio de um tratamento mecânico (com movimento) de estruturas neurais e não neurais adjacentes ao sistema nervoso.

Caso seu aluno (a) não demonstre melhora da dor típica de neuropatia ao alongamento (dor irradiada para mãos e pés, queimação, formigamento, etc.), encaminhe-o para uma fisioterapeuta qualificado e experiente no método para uma avaliação mais minuciosa.

Referências:

Butler, D. Coppieters, MW. Neurodynamics in a broader perspective. Man Ther v. 10, p. 175-179, 2005.

Michael Shacklock. Neurodynamics. Physical Therapy 1995, vol 85 number 1.

Michel W. Coppieters, Alan D. Hough, Andrew Dilley. Different Nerve-Gliding Exercises Induce Different Magnitudes of Median Nerve Longitudinal Excursion: An In Vivo Study Using Dynamic Ultrasound Imaging. Journal of
Orthopaedic Sports & Physical Therapy, Vol 39, March 2009.

Robert J. Nee, Bill Vicenzino, Gwendolen A. Jull, Joshua A. Cleland, Michel W. Coppieters. Neural tissue management provides immediate clinically relevant benefits without harmful effects for patients with nerve-related neck and arm pain: a randomised trial. Journal of Physiotherapy 2012 Vol 58.

Robert J. Nee, Gwendolen A. Jull, Bill Vicenzino, Michel W. Coppieters. The Validity of Upper-Limb Neurodynamic Tests for Detecting Peripheral Neuropathic Pain. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy Vol 42 number 5 May 2012, 413.

Sunderland S. The anatomy and physiology of nerve injury. Muscle Nerve, 1990; Sep;13(9):771-84.