Neurodinâmica para instrutores de Pilates
O conhecimento das posições (testes provocativos do tecido neural) que estiram ou comprimem os nervos bem como os sintomas referidos pelos indivíduos com sinais e sintomas de comprometimento do tecido neural é imprescindível ao profissional de Pilates. Exercícios clássicos, idealizados por Joseph e comumente aplicados em estúdios de Pilates espalhados por todo o mundo, apresentam a mesma posição e amplitude articular que os testes neurais provocativos aplicados durante uma avaliação fisioterapêutica.
Testes neurais foram desenvolvidos a partir de pesquisas sobre a anatomia neural e deslizamento dos nervos. Em 2009, o fisioterapeuta e pesquisador Coppieters comparou sequências específicas de movimentos dos membros superiores, e observou qual movimento e ordem tensionam ou mobilizam o tecido neural, de modo a saber qual técnica seria mais adequada para o tratamento. O objetivo do teste neural é provocar, de maneira gentil, uma tensão neural não lesiva que cause a queixa relata pelo indivíduo com sintomas de neuropatia.
O registro mais antigo do uso de testes neurais data de 2800 DC, quando os egípcios utilizavam a manobra da elevação da perna (flexão do quadril com joelho em extensão) como meio diagnóstico para lombalgia. Atualmente conhecido como Straight Leg Raise (SLR), esse teste promove um alongamento do nervo ciático e tem por objetivo avaliar a ocorrência de sensibilidade mecânica à elevação do membro inferior.
O conceito modelo de Neurodinâmica proposto por Shacklock (2005) é dividido em um sistema de 3 partes: interface mecânica, estruturas neurais e tecidos inervados.
A interface mecânica ou “cama do nervo” (nerve bed) consiste de estruturas anatômicas situadas próximas aos nervos (tendões, ligamentos, músculos, ossos, discos intervertebrais, fáscia e vasos sanguíneos). É como um telescópio flexível e móvel o qual contém o tecido neural. Dessa forma, o nervo periférico está sujeito à deformação da interface, (estiramento, encurtamento, curvatura ou torção), estando obrigado a acompanhar qualquer tipo de movimentação.
Estruturas neurais consistem de todas as partes do sistema nervoso, desde o encéfalo até as terminações distais dos nervos periféricos. Além de funções fisiológicas como condução de impulsos elétricos, fluxo neural, transporte axonal, inflamação e sensibilidade mecânica, o tecido neural também possui função mecânica e deve ser capaz de suportar tensão, movimento e compressão.
Os tecidos inervados são supridos por nervos correspondentes, sendo importantes pontos de acesso para tratamento do tecido nervoso. Liberar um músculo encurtado distalmente, por exemplo, pode ajudar a reduzir a tensão por todo o caminho do um nervo que esteja sensibilizado (sensível ao movimento).
Um nervo periférico pode sofrer estiramento ou compressão mecânica, e em geral é capaz de suportar em torno de 20% de alongamento antes que seja lesado (Sunderland, 1991). Um nervo que já se encontre sensibilizado (que já sofreu um estiramento além de sua capacidade normal) não responderá normalmente à tensão, compressão ou movimentação diária, podendo gerar dor (geralmente sentida no trajeto do nervo).
Uma neuropatia compressiva produz dor e alteração da condutibilidade neural e bloqueio da condução axonal. Efeitos comuns da compressão de um nervo periférico são: resposta sensorial diminuída, redução dos impulsos motores, alterações no reflexo, dor no miótomo e dermátomo correspondente, hiper ou paraestesia (queimação, formigamento, etc.)
O fluxo neural é afetado por compressão, e pode provocar edema neural pela pressão que bloqueia a drenagem de sangue do nervo, o que reduz sua oxigenação. Shacklock identificou que quanto mais tempo o fluxo neural é afetado, mais tempo irá levar sua recuperação e maior a chance de que sua condução seja afetada.
Edema ou inflamação pode levar à cicatrização dentro do nervo. Uma vez inflamado, o nervo tem sua sensibilidade mecânica aumentada e pode iniciar uma cascata inflamatória que não melhora com alongamento.
A mobilização do sistema nervoso é uma das abordagens da Fisioterapia Manipulativa no tratamento de dor. O método, conhecido como Mobilização Neural, atua na fisiologia da dor por meio de um tratamento mecânico (com movimento) de estruturas neurais e não neurais adjacentes ao sistema nervoso.
Caso seu aluno (a) não demonstre melhora da dor típica de neuropatia ao alongamento (dor irradiada para mãos e pés, queimação, formigamento, etc.), encaminhe-o para uma fisioterapeuta qualificado e experiente no método para uma avaliação mais minuciosa.
Referências:
Butler, D. Coppieters, MW. Neurodynamics in a broader perspective. Man Ther v. 10, p. 175-179, 2005.
Michael Shacklock. Neurodynamics. Physical Therapy 1995, vol 85 number 1.
Michel W. Coppieters, Alan D. Hough, Andrew Dilley. Different Nerve-Gliding Exercises Induce Different Magnitudes of Median Nerve Longitudinal Excursion: An In Vivo Study Using Dynamic Ultrasound Imaging. Journal of
Orthopaedic Sports & Physical Therapy, Vol 39, March 2009.
Robert J. Nee, Bill Vicenzino, Gwendolen A. Jull, Joshua A. Cleland, Michel W. Coppieters. Neural tissue management provides immediate clinically relevant benefits without harmful effects for patients with nerve-related neck and arm pain: a randomised trial. Journal of Physiotherapy 2012 Vol 58.
Robert J. Nee, Gwendolen A. Jull, Bill Vicenzino, Michel W. Coppieters. The Validity of Upper-Limb Neurodynamic Tests for Detecting Peripheral Neuropathic Pain. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy Vol 42 number 5 May 2012, 413.
Sunderland S. The anatomy and physiology of nerve injury. Muscle Nerve, 1990; Sep;13(9):771-84.